
Leve aumento da inadimplência marca início de ano em BH
O início do ano trouxe um leve aumento na inadimplência em Belo Horizonte, impulsionado por despesas típicas do período como impostos, matrículas escolares e compras de material didático. Segundo dados divulgados pela Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL/BH), o índice de consumidores inadimplentes cresceu 0,3% em fevereiro de 2025. Apesar de modesto, esse avanço quebra o ritmo de desaceleração observado nos últimos meses e acende um alerta para o impacto dos compromissos financeiros sazonais no orçamento das famílias belo-horizontinas.
O número ainda está abaixo das médias observadas no restante do país — onde a inadimplência alcançou 3,22% em nível nacional, 2,28% no estado de Minas Gerais e 1,67% na região Sudeste —, reforçando que, embora o cenário da capital mineira seja menos alarmante, as pressões financeiras persistem e afetam diretamente o comportamento de consumo.
Em fevereiro, o valor médio das dívidas registradas na capital foi de R$ 5.246,57, apresentando crescimento de 3,43% na comparação com janeiro. Esse aumento no ticket médio da inadimplência revela não apenas uma maior dificuldade no pagamento, mas também um possível acesso a linhas de crédito mais elevadas, o que pode se transformar em um risco futuro para o equilíbrio financeiro familiar.
Alta impulsionada por gastos acumulados
De acordo com o presidente da CDL/BH, Marcelo de Souza e Silva, o cenário é reflexo direto das obrigações concentradas no início do ano. “Estamos diante de uma sazonalidade conhecida, em que há um acúmulo de despesas significativas logo após o período de festas e férias. É nesse momento que as famílias se deparam com IPTU, IPVA, matrículas escolares, aquisição de uniformes, livros, além das pendências remanescentes de dezembro. Esse conjunto de fatores pressiona severamente a renda disponível”, detalha o dirigente.
Mesmo diante da elevação, Souza e Silva destaca que a tendência ao longo de 2025 ainda é positiva, amparada por melhorias no mercado de trabalho e na renda dos consumidores. “Apesar desse ligeiro revés, a cidade vem demonstrando recuperação econômica. Temos um cenário de inflação sob controle e uma taxa de desemprego em queda, o que permite projetar uma retomada mais robusta da capacidade de pagamento nos próximos meses”, avalia.
Mulheres lideram em número de inadimplentes
Os dados também revelam uma diferença de gênero no comportamento financeiro da população inadimplente. As mulheres representam 46,89% dos registros de negativação, mantendo a liderança entre os inadimplentes. Contudo, são os homens que acumulam os valores mais elevados: a dívida média masculina chega a R$ 5.508,41, enquanto a média feminina é de R$ 5.184,08.
A discrepância é explicada, segundo Souza e Silva, por fatores estruturais. “Sabemos que, historicamente, os rendimentos das mulheres são inferiores aos dos homens. Isso influencia diretamente sua capacidade de quitação de dívidas. Por outro lado, os homens, mesmo em menor número entre os inadimplentes, tendem a contrair obrigações financeiras de maior porte, talvez por maior acesso ao crédito ou maior exposição a financiamentos robustos”, observa.
Esse cenário evidencia a necessidade de políticas públicas focadas em educação financeira inclusiva e crédito responsável, especialmente voltadas à realidade socioeconômica de cada grupo.
Faixa dos 30 aos 39 anos lidera em valores
No recorte por idade, a faixa entre 30 e 39 anos é a que mais concentra dívidas elevadas, com um valor médio de R$ 6.273,36. Essa etapa da vida costuma coincidir com aumento de responsabilidades familiares, consolidação de carreira e aquisição de bens duráveis — o que naturalmente expande a exposição ao crédito.
A seguir, estão as demais faixas etárias e seus respectivos valores médios de dívida:
- 18 a 24 anos: R$ 3.480,07
- 25 a 29 anos: R$ 5.361,14
- 40 a 49 anos: R$ 5.930,37
- 50 a 64 anos: R$ 5.040,23
- 65 a 84 anos: R$ 4.105,55
- 85 a 94 anos: R$ 2.499,35
- Acima de 95 anos: R$ 1.540,33
O dirigente destaca que a maturidade financeira e a fase da vida influenciam diretamente o tipo e o volume de dívida contraída. “Jovens tendem a ter dívidas menores, muitas vezes relacionadas a consumo básico ou cartão de crédito. Já as faixas intermediárias lidam com financiamentos de imóveis, veículos e educação, o que eleva os valores médios. No grupo dos mais velhos, há uma natural redução de obrigações e menor exposição ao mercado de crédito”, conclui.
Inadimplência entre empresas também sobe
O ambiente corporativo também sentiu os reflexos da pressão econômica. O índice de inadimplência entre empresas sediadas em Belo Horizonte subiu 4,1% em fevereiro, comparado ao mesmo mês de 2024. Apesar do crescimento, o percentual permanece abaixo da média nacional (7,03%), estadual (6,57%) e regional (6,84%), o que revela certa resiliência do empresariado local frente às adversidades econômicas.
Segundo a CDL/BH, o valor médio das dívidas por CNPJ ultrapassa R$ 6 mil, com uma média de 1,7 contas em atraso por empresa. O setor de Serviços, com 50,87% das negativações, lidera o ranking, seguido pelo Comércio (27,99%), Indústria (6,14%) e Agricultura (0,12%).
Entre os principais credores estão as empresas de comunicação (4,7%) e instituições financeiras (3,16%). Em contrapartida, houve queda nas pendências com fornecimento de água e energia elétrica (-8,16%) e com o setor de comércio (-1,78%).
O cenário sugere uma reorganização das dívidas pelas empresas, priorizando setores essenciais e renegociando passivos com menor impacto operacional. “A capacidade de reestruturação e renegociação dos compromissos por parte das empresas é um indicativo de maturidade empresarial e também de uma tentativa de manter a saúde financeira sem comprometer o funcionamento do negócio”, analisa Souza e Silva.
Desafios e oportunidades para 2025
Ainda que os números mostrem um início de ano financeiramente desafiador, as projeções para o restante de 2025 são cautelosamente otimistas. A CDL/BH aposta na manutenção do ambiente econômico favorável, com inflação sob controle, juros em queda e reaquecimento do mercado de trabalho, como pilares para a redução gradual da inadimplência.
Para o presidente da entidade, é essencial fortalecer ações de educação financeira, tanto no ambiente escolar quanto nas iniciativas voltadas ao público adulto. Além disso, é necessário facilitar o acesso a linhas de crédito sustentáveis, que considerem a realidade do consumidor médio e do pequeno empreendedor.
“O consumidor belo-horizontino tem se mostrado resiliente. A inadimplência subiu, sim, mas dentro de um comportamento sazonal previsível. Cabe a todos — setor público, instituições financeiras, comércio e sociedade — agir de forma preventiva e educativa para que esse número não se transforme em um problema estrutural”, finaliza Souza e Silva.
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Fonte: Balcão News