Estrada Real -Distritos de Mariana – parte 2
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Continuando nossa viagem e desvendando os encantos dos Distritos de Mariana, descobrimos recantos encantadores, cada um com sua identidade única, paisagens deslumbrantes, comunidades acolhedoras e um rico patrimônio cultural que nos transportam para outra época.
Furquim – Furquim é um dos lugares mais antigos de Minas. Seu nome é em homenagem ao sertanista Antônio Furquim da Luz, que fundou o arraial no começo do século XVIII. Em 1706 já era Paróquia. Em sua praça principal encontra-se um Cruzeiro de pedra de forma patriarcal.
A fé e a natureza se unem em perfeita harmonia. A imponente Basílica de Nossa Senhora do Carmo, com sua arquitetura neogótica e rica história, e a Matriz de Bom Jesus do Monte, tombada pelo IPHAN. Os amantes da natureza também se encantam com as trilhas que levam às cachoeiras da região, como a Cachoeira de Rosa, com queda de 27 metros, e as Cachoeiras do Jadir e do Pedro.
A simpatia dos moradores e a culinária típica mineira completam a experiência nesse recanto acolhedor.
O artesanato produzido no distrito é variado, destacando-se esculturas em pedra sabão; confecção de tapetes de pita; flores de palha; gamelas; pilões; colheres de pau; balaios; bordados; crochê; pintura em tecido; esteiras e peneiras de taquara; bolsas, cabrestos e chicotes de couro e até móveis artesanais.
A calmaria do distrito desaparece no dia 1° de Janeiro, quando se reúnem comemorações do Dia do Padroeiro e a tradicional festa de virada de ano, numa programação diversificada: são manifestações religiosas, shows de música, leilão, barraquinhas de comidas e bebidas e espetáculos pirotécnicos.
Monsenhor Horta – São Caetano do Rio do Carmo, hoje Monsenhor Horta, foi um dos numerosos arraiais que partilharam da rota do ouro, margeando o Ribeirão do Carmo. Os primeiros povoadores foram os portugueses Caetano Pinto de Castro, Pedro Álvares Pereira e Manuel Monteiro Chassim. Em 1836 as freguesias de São Caetano e São Sebastião se uniram e formaram apenas uma. Ao Distrito de São Caetano foi dado o nome de “Monsenhor Horta”.
A Igreja Matriz de São Caetano, do século 18 e tombada pelo IPHAN, apesar da sua arquitetura sisuda e pesada, tem seu interior ricamente decorado, retratado na opulência do talento dos vários artistas que participaram da sua construção.
Monsenhor Horta é um lugar tranquilo, aconchegante e palco de uma das maiores riquezas mineiras, a Sociedade Musical São Caetano, a 4ª banda mais antiga do Brasil, a 3ª de Minas Gerais e a Banda mais antiga da Região dos Inconfidentes.
A banda São Caetano embala a tradicional Festa do Vinho no mês de julho, quando o frio é um atrativo a parte. A estação ferroviária e a antiga Capela de Nosso Senhor dos Passos, junto a Igreja Matriz de São Caetano e seus grandes casarões formam, junto às belas paisagens, um dos mais importantes arraiais da Rota do ouro que margeia o Ribeirão do Carmo.
Visitar Monsenhor Horta é percorrer um passeio na história e pela tradição, que conta também com o ensaio da Orquestra Mirim de Flautas, composta por alunos com idade entre 7 e 14 anos, e foi estampada em um selo de postagem da Companhia Brasileira de Correios e Telégrafos, em 2005.
Padre Viegas – O distrito de Padre Viegas ou Sumidouro, como é carinhosamente chamado, é lugar sossegado, com pouca gente na rua, sem pressa, onde criança ainda brinca livre na porta de casa. O nome do distrito é uma homenagem a um religioso que estudou no local quando menino, no Colégio Interno Padre Osório – um dos mais antigos do estado de Minas Gerais.
O distrito é sinônimo de hospitalidade e comida boa. Uma mistura de fubá, bacon, frango, calabresa e muito amor forma um delicioso prato muito conhecido para os moradores de Mariana: o Cuscuz. O tradicional Festival do Cuscuz recebe centenas de visitantes ávidos por provar essa delícia mineira e também acontece anualmente no dia 12 de outubro.
Seu cenário, cercado por belezas naturais, vai do rústico ao clássico em mistura harmoniosa de construções históricas do século XVIII a extensas fazendas, assim traduzidas em versos pelo grande escritor marianense Cláudio Manuel da Costa, natural do distrito.
Destaque natural para Castelinho, um conjunto de rochas de hematita que dão a impressão de um castelo. Os paredões de pedras medem de 5 a 55 metros de altura e do mirante é possível avistar várias localidades da região. Os gritos de macacos e outros animais soam como sinfonia neste local de incrível beleza.
Além da festa da padroeira, a Festa da Corporação Musical Sagrado Coração de Jesus, no mês de julho/agosto, é outra manifestação cultural do distrito. Conta com novena, missas, procissão da bandeira do Sagrado Coração, repiques de sinos, fogos, bingos, show popular e barraquinhas de comidas e bebidas, retreta com a corporação aniversariante e outras bandas convidadas. Há ainda eleição da Rainha da Banda e o desfile do Bandão (formado por todas as bandas presentes) pelas ruas da comunidade e almoço festivo.
Passagem de Mariana – Passagem permite uma viagem pela história vivenciando a saga e a sina perigosa dos homens que procuravam pelo ouro no interior das montanhas mineiras.
Seu principal atrativo, é o que dá nome ao local, à Mina da Passagem, local onde havia extração de ouro, descoberto na região no século XVIII. A mina foi desativada em 1954, sendo aberta ao turismo no final do século XX, em um trajeto de 315 metros de extensão, que pode ser percorrido pelos turistas em um troley, o mesmo carrinho sobre trilhos usado há mais de 200 anos, chegando a 120 metros de profundidade.
Além da exuberante mina, Passagem de Mariana, também conta com belas construções arquitetônicas do século XVIII, inclusive a Igreja de Nossa Senhora da Glória. Bem próximo à linha de trem é possível ver ruínas de casas construídas por escravos.
O chamado “distrito cultural” abriga duas antigas corporações musicais, ateliês e produtores culturais de uma singularidade exemplar, que recebem visitantes constantemente e levam a cultura de Mariana por todo o Brasil.
Santa Rita Durão – Pelos caminhos da histórica Estrada Real, seja em uma caminhada ecológica, passeios a cavalo, de carro ou bicicleta é possível chegar ao pequeno povoado conhecido como Santa Rita Durão.
Na Bacia do Rio Piracicaba e próximo à Serra do Caraça, o Distrito de Santa Rita Durão surgiu com a descoberta do ouro na transição do séc. XVII para o XVIII. A busca, quase que fracassada por ouro, rendeu ao distrito a primeira denominação de “Inficionado” por volta de 1702. O termo, variante da palavra “Infeccionado”, era devido ao pouco ouro e de baixo teor encontrado nas águas do curso d’água local.
Conhecer a localidade permite encher os olhos com belezas da história mineira e grandes paisagens naturais, e permite transitar pelas páginas poéticas de escrita pelo frei Santa Rita Durão, natural do distrito e nascido em 1720. O frei Santa Rita Durão se tornou pioneiro da Literatura Brasileira de um dos maiores poemas épicos brasileiros, o “Caramuru”.
Outra figura histórica ímpar da região é Sinhá Olímpia. Conhecida internacionalmente, se dizia noiva de Dom Pedro II, amante de Chico Rei e amiga de Tiradentes. Foi considerada por Rita Lee a primeira hippie do Brasil e transformou-se em musa de Carlos Drumond de Andrade e de Milton Nascimento. O compositor Vinícius de Morais disse certa vez que um papo com Dona Olímpia valia uma viagem a Minas Gerais. Vive ainda, imortalizada, na lembrança daqueles que tiveram o prazer de conhecer esta lendária filha de Santa Rita Durão.
Cada distrito de Mariana oferece uma experiência singular, um convite a conectar com a história, a cultura e a beleza natural da região. Explore, vivencie e guarde para sempre as memórias inesquecíveis dessa jornada encantadora.
Estrada Real: VIVA, EXPERIMENTE, DESCUBRA!
Daniel Junqueira Magalhães
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