Estrada Real – Distritos do Serro

Estrada Real – Distritos do Serro

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Poucas cidades têm o privilégio de ter vilarejos tão acolhedores quanto o Serro.

Passear por aqui é entender melhor a história da ocupação dos sertões de Minas Gerais, que começou ainda no século XVIII com a descoberta de jazidas de ouro e lavras de diamante.

As paisagens da região, marcadas pela exuberância da Serra do Espinhaço, se misturam com a graça da arquitetura colonial, estampada em casas e monumentos públicos.

O Serro, se estende além da sede, abrangendo cinco: Pedro Lessa, Três Barras, Vila Deputado Augusto Clementino (Mato Grosso), São Gonçalo Do Rio Das Pedras e Milho Verde, distritos singulares que encantam por suas características únicas. Embarque em uma jornada para conhecer alguns deles:

Milho Verde – Bela, simples e acolhedora

O antigo Arraial de Milho Verde é terra natal da personagem histórica Chica da Silva, nascida entre 1731 e 1735.

A Capela de Nossa Senhora do Rosário, construída em madeira e barro, está ali desde o século XIX, com sua fachada em forma de hexágono e sua torre central. Presume-se que o belo templo foi erguido pelos negros livres e também pelos ainda escravizados. Era o pequeno o pequeno Canto de orações daqueles que encontraram as primeiras pedras de diamante na região.

Milho Verde-Igreja NSra do Rosário. Foto: Rodrigo Azevedo

O lugar nasceu como Arraial de Nossa Senhora dos Prazeres de Milho Verde do Serro Frio. O nome explica-se pela santa padroeira da região e “Serro Frio” deve-se ao fato de o arraial àquela época pertencer a Santo Antônio do Bom Retiro do Serro Frio – hoje, simplesmente Serro.

Mas o que ficou do nome, Milho Verde, é a parte mais controversa e, claro, a mais curiosa.

Existem duas versões principais. A primeira diz que os bandeirantes, ao chegarem, pararam em uma casa humilde da região e a única comida que havia para ser oferecida era, exatamente, milho verde. Outra lenda conta que um português fundou o povoado em 1711. E seu nome seria Rodrigues Milho Verde.

Em fins do século XIX, o vilarejo chegou a ser praticamente abandonado e seu povoamento voltou a se intensificar só na década de 1980, quando pessoas em busca de tranquilidade começaram a chegar ao local. É na casa delas que hoje se pode ouvir muitas outras lendas da região, regadas a café e ao inconfundível queijo do Serro.

A natureza acolhedora do povo dessa região é um dos seus principais atrativos. As paisagens ao redor completam o charme. A Cachoeira do Moinho é uma das mais bonitas da região e deve seu nome a dois moinhos próximos que eram usados para transformar milho em fubá.

A conformação das pedras faz com que a água caia em etapas e chegue ao poço devagar.

Cachoeira do Moinho- Foto: Acervo- Setur-MG

Mais distante está a Cachoeira do Lajeado. A trilha leva a uma queda d’água que desliza sobre pedras de cor escura, formando uma linda piscina de tonalidade marrom. Por ser rasa, é apropriada para crianças.

No período aproximado de uma década, o turismo registrou um considerável crescimento no charmoso distrito.

Nas trilhas até Milho Verde, a partir de Diamantina cortando a Serra do Espinhaço, atravessa- se a ponte sobre o Rio Jequitinhonha — em um lugar muito próximo à nascente desse grande rio que deságua no litoral da Bahia.

Capivari – Turismo de vilarejo no teto do Sertão

Capivari não é distrito do Serro, mas é um vilarejo que vale a pena mencionar por suas belezas naturais que enchem os olhos.

Chamado “turismo de vilarejo”, iniciativa que permite aos viajantes se hospedarem na casa dos moradores, é o que possibilita a visita ao povoado de Capivari. Com cerca de 200 habitantes, vivem da agricultura e também, do turismo. Uma joia da Estrada Real — devidamente protegida pela Capela de São Sebastião, erguida em meados do século XVIII, no alto de uma colina na entrada da vila.

As prosas são sempre cheias de fantasia e natureza, dois elementos que andam lado a lado em Capivari. É ali que está o Pico do Itambé: com 2.002 metros, um dos pontos mais altos da Serra do Espinhaço, é conhecido como “o teto do sertão”. Sua conservação foi um dos principais argumentos para a criação do Parque Estadual do Pico do Itambé, em janeiro de 1998. Quem se dispõe a ir até o topo encontra cursos d’água, cachoeiras e uma grande riqueza vegetal, que formam belíssimas paisagens.

Pico do Itambé. Foto: Cézar Félix

Mas o atrativo mais procurado pelos visitantes é a exuberante Cachoeira do Tempo Perdido, uma das únicas quedas do estado em que é possível caminhar “por trás” das águas. Essa característica se deve ao formato da pedra, afastada alguns metros do paredão. Outro ponto singular é o chão de areia fina, que dá um aspecto de “praia” ao local. O poço, de tonalidade marrom, confere ainda mais beleza a esse ambiente tão particular.
Capivari também é certificada como Comunidade Quilombola desde 2019

Cachoeira do Tempo Perdido. Foto: Rodrigo Azevedo

São Gonçalo do Rio das Pedras 

Harmonia entre patrimônio histórico e natureza

A linda São Gonçalo do Rio das Pedras, que fica a menos de 10 quilômetros de Milho Verde, exige do visitante, em primeiro lugar, instantes de profunda contemplação. Não há quem ande por suas ruas de pedra sem admirar os contornos rústicos e sempre cativantes das construções locais — erguidas a 1.150 metros de altitude. São heranças do século XVIII e nasceram da incessante busca por metais preciosos.

Muito próximo ao centro do vilarejo, surge um paredão rochoso de 85 metros de onde a água não para de cair, desenhando uma imponente cachoeira. Dois moinhos de pau-a-pique, que servem à produção de fubá, completam a paisagem da Cachoeira do Comércio. O local, em meio ao casario de São Gonçalo do Rio das Pedras, é o exemplo da convivência harmônica entre homem e natureza que reina ali.

Cachoeira do Comércio. Foto: Rodrigo Azevedo.

Outras cachoeiras merecem a visita. É o caso da Grota Seca, com mais de 30 quedas que formam poços de diferentes tamanhos, perfeitos para deliciosos mergulhos. E, claro, como todo vilarejo mineiro que se preze, por ali também a história se confunde com as lendas e merece ser conhecida.

Conta-se que a Igreja Matriz de São Gonçalo foi construída sobre a pedra em que um grupo de crianças encontrou uma imagem desse santo. À época, o distrito ainda não possuía um templo cristão, o que fez com que alguns moradores levassem a imagem em romaria para o distrito vizinho de Milho Verde. Mas a imagem reaparecia misteriosamente no mesmo local onde foi achada.

Igreja Matriz de São Gonçalo. Foto: Rodrigo Azevedo

Os moradores então decidiram erguer a igreja ali. Sua arquitetura apresenta um grande portão central e duas torres laterais, além de uma bela pintura do santo que lhe dá o nome no teto da capela-mor. Seu estilo transita entre o barroco e o rococó. Grandes atrativos e surpreendentes descobertas.

Estrada Real: VIVA, EXPERIMENTE,

DANIEL MAGALHÃES JUNQUEIRA

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Fonte: Balcão News

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